Publicado em 4/18/2003
Meu nome é Patrícia, tenho 17 anos, e encontro- me no momento quase sem forças, mas pedi para a enfermeira Dani, minha amiga, para escrever esta carta que será endereçada aos jovens de todo o Brasil, antes que seja tarde demais.
Eu era uma jovem "sarada", criada em uma excelente família de classe média alta de Florianópolis.
Meu pai é Engenheiro Eletrônico de uma grande estatal, e procurou sempre para mim e para meus dois irmãos dar tudo de bom e o que tem de melhor, inclusive liberdade que eu nunca soube aproveitar.
Aos 13 anos participei e ganhei um concurso para modelo e manequim para a Agência Kasting e fui até o final do concurso que selecionou as novas Paquitas do programa da Xuxa.
Fui também selecionada para fazer um Book na Agência Elite em São Paulo.
Sempre me destaquei pela minha beleza física, chamava a atenção por onde passava.
Estudava no melhor colégio de "Floripa", Coração de Jesus. Tinha todos os garotos do colégio aos meus pés. Nos finais de semana freqüentava schoping, praias , cinemas, curtia com minhas amigas tudo o que a vida tinha de melhor a oferecer a pessoas saradas, física e mentalmente.
Porém, como a vida nos prega algumas peças, o meu destino começou a mudar em outubro de 1994.
Fui com uma turma de amigos para a OCTOBERFEST em Blumenau.
Os meus pais confiavam em mim e me liberaram sem mais apego.
Em "Blu", achei tudo legal, fizemos um esquenta no "Bude,"famoso barzinho da Rua XV.À noite fomos à "PROEB" e no "Pavilhão Galegão" tinha um "schow maneiro" da Banda Cavalinho Branco. Aquela movimentação de gente era "trimaneira".
Eu já tinha experimentado algumas bebidas, tomava escondido da mamãe o Licor Amarula,mas nunca tinha ficado bêbada.
Na quinta feira, primeiro dia de OCTOBER, tomei o meu primeiro porre de CHOPP,que sensação legal, curti a noite inteira "doidona", beijei uns 10 carinhas, inclusive minhas amigas colocavam o CHOPP numa mamadeira misturado com guaraná para enganar os "meganha", porque menor não podia beber; mas a gente bebeu a noite inteira e os "Otário" não percebiam.
Lá pelas 4 h da manhã, fui levada ao Posto Médico, quase em coma alcoólico, numa maca dos Bombeiros. Deram-me umas injeções de glicose para melhorar.
Quando fui ao apartamento quase "vomitei as tripas", mas o meu grito de liberdade estava dado. No dia seguinte aquela dor de cabeça horrível, um mal estar daqueles com tensão "pregmestru".
No sábado conhecemos uma galera de S. Paulo, que alugaram "apê" no mesmo prédio.
Nem imaginava que naquele dia eu estava sendo apresentada ao meu futuro assassino.
Bebi um pouco no sábado, a festa não estava legal , mas lá pelas 5.30hs da manhã fomos ao "apê"dos garotos para curtir o restante da noite.
Rolou de tudo e fui apresentada ao famoso baseado"Cigarro de Maconha", que me ofereceram.
No começo resisti, mas chamaram a gente de "Catarina careta", mexeram com nossos brios e acabamos experimentando.
Fiquei com uma sensação esquisita, de baixo astral, mas no dia seguinte antes de ir embora experimentei novamente
O garoto mais velho da turma o "Marcos", fazia carreirinho e cheirava um pó branco que descobri ser cocaína.
Ofereceram-me, mas não tive coragem aquele dia.
Retornamos à "Floripa" mas percebi que alguma coisa tinha mudado, eu sentia a necessidade de buscar novas experiências não demorou muito para eu novamente deparar- me com meu assassino "DRUES". Aos poucos meus melhores amigos foram se afastando quando comecei a me envolver com uma galera da pesada, e sem perceber eu já era uma dependente química; a partir do momento que a droga começou a fazer parte do meu cotidiano.
Fiz viagens alucinantes, fumei maconha misturada com esterco de cavalo, experimentei cocaína misturada com um monte de porcaria.
Eu e a galera descobrimos que misturando cocaína com sangue ela ficava mais forte o efeito, e aos poucos não compartilhávamos a seringa e sim o sangue que cada um cedia para diluir o pó.
No início a minha mesada cobria os meus custos com as malditas, porque a galera repartia e o preço era acessível.
Comecei a comprar a "branca" a R$ 7,00 o grama, mas não demorou muito para conseguir sòmente a R$ 15, 00, a boa que eu precisava no mínimo 5 doses diárias. Saía na sexta- feira e retornava aos domingos com meus "novos amigos".
Às vezes a gente conseguia o "extasy", dançávamos nos "Points" a noite inteira e depois farra.
O meu comportamento tinha mudado em casa, meus pais perceberam, mas no inicio eu disfarçava e dizia que eles não tinham nada a ver com a minha vida.
Comecei a roubar em casa pequenas coisas para vender ou trocar por drogas.
Aos poucos o dinheiro foi faltando e para conseguir ir grana fazia programas com uns velhos que pagavam bem. Sentia nojo de vender o meu corpo, mas era necessário para conseguir dinheiro.
Aos poucos toda a minha família foi se desestruturando. Fui internada diversas vezes em Clinicas de Recuperação.
Meus pais sempre com muito amor gastavam fortunas para tentar reverter o quadro.
Quando eu saía da Clinica agüentava alguns dias,mas logo estava me picando novamente. abandonei tudo: escola, bons amigos e família.
Em dezembro de 1997 a minha sentença de morte foi decretada; descobri que havia contraído o vírus da AIDS, não sei se me picando,ou através de relações sexuais muitas vezes sem camisinha.
Devo ter passado o vírus a um montão de gente, porque os homens pagavam mais para transar sem camisinha.
Aos poucos os meus valores que só agora reconheço foram acabando, família, amigos, pais, religião, Deus, até Deus,tudo me parecia ridículo.
Papai e mamãe fizeram tudo, por isso nunca vou deixar de ama-los.
Eles me deram o bem mais precioso que é a vida e eu o joguei pelo ralo.
Estou internada, com 24kg, horrível, não quero receber visitas porque não podem me ver assim, não sei até quando sobrevivo, mas no fundo do coração peço aos jovens não entrem nessa viagem maluca...
Você com certeza vai se arrepender assim como eu, mas percebo que para mim é tarde demais.
Obs. "Patrícia encontrava- se internada no Hospital Universitário de Florianópolis e descreve a enfermeira Danelise,que Patrícia veio a falecer 14 horas mais tarde, de parada cardíaca respiratória em conseqüência da AIDS. "
Depoimentos:
Vou contar um pouco sobre a minha convivência com usuários
de drogas. Onde moro, é um quintal muito grande, com diversas famílias. A
maioria das pessoas que lá vivem são meus parentes. Na frente da casa, que era
do meu falecido avô, que agora é da minha tia, todo dia é feita uma fogueira.
Ao redor dela, é que as drogas começam a rolar. Na minha família tem vários
usuários como, por exemplo; minha tia, meu tio, meu pai, meu primo, uns dez
amigos e mais algumas pessoas. Em 16/04/2012, por volta das 18h40min, tinha
acabado de chegar da escola e minha tia me chamou para ir até a casa dela ver
seu novo celular. Chegando lá, vi meu primo de 19 anos baforando lança-perfume
e ouvindo funk muito alto. Ele estava muito loko, porque além de usar lança,
ele tinha cheirado farinha. Continuou usando e por volta das duas da manhã, ele
brigou com a esposa. Ela saiu de casa, ele foi correndo atrás. Chegando próximo
a um supermercado ele não aguentou, caiu e em seguida teve uma parada cardíaca.
Minha prima, ao voltar para casa, perguntou a um rapaz se ele tinha visto meu
primo. O rapaz perguntou se ele estava com um documento na mão, ela respondeu
que sim. Ele informou que meu primo estava quase morto, caído enfrente ao
supermercado. Minha prima ficou desesperada. Em seguida, veio saber que quando
chegou ao hospital, ele não resistiu e
faleceu. Mesmo depois do ocorrido, as
pessoas continuam a se reunir ao redor da fogueira, para usar drogas. Essas
pessoas que são usuárias, não tem a menor noção do que as drogas causam, e continuam
a usar.
Texto escrito por
aluna da oitava série, da escola onde leciono.
Meu nome é Beatriz Gonçalves Lima. Tenho 16 anos e acho que
assim como eu, todas as crianças quando pequenas imaginam seus pais como
super-heróis. Era assim que eu o via, meu supermen. Conforme fui crescendo,
percebi que a vida não era como eu imaginava, e que meu pai, assim como os dos
outros era apenas um homem, com qualidades e defeitos. Cresci, e desde os meus
três anos de idade, convivi com sua ausência, pois por diversas vezes, ele era
internado em clínicas de reabilitação. Minha mãe, que é tudo para mim hoje,
nunca me escondeu nada e também nem teria como, pois desde pequena sempre fui
curiosa, e quando ele ficava ausente, eu perguntava o porquê, e minha mãe me
explicava. Durante todos os anos, uma das coisas que mais me deixa triste é o
Dia dos Pais, pois nas escolas sempre faziam lembrancinhas e minhas amigas me
perguntavam sobre o meu pai, o que eu daria de presente a ele. Eu, com vergonha
de falar onde meu pai se encontrava e o porquê dele estar lá, inventava que ele
estava viajando a trabalho. Cada ano, uma viajem diferente. É claro que ele não
ficou todos esses anos, completamente ausente. A cada lugar que era internado,
ficava de 5 a 10 meses e depois voltava para casa dizendo que estava curado
desse vício das drogas, em especial do crack. Era só ilusão. Passava de 2 a 4
meses sem se drogar e aí, conforme os problemas, e “os amigos” voltavam a
aparecer na sua vida, ele recaia e era internado novamente. Como ele passava
mais tempo internado, a maioria das vezes, o Dia dos Pais correspondia
justamente quando ele estava ausente. Dá para contar nos dedos, os Dias dos
Pais que passamos juntos. Isso tudo me deixa profundamente magoada, mas assim
como hoje, eu não demonstro esse sentimento, pois minha mãe já sofreu muito com
essa situação, e eu tenho que ser forte e ajudar minha mãe a cuidar do meu
irmão, que está passando por essa ausência de pai, assim como eu. Em 2008, meu
pai conseguiu ficar o ano todo sem usar drogas, ele estava se esforçando,
lutando contra o vício. Mas veio o destino e levou minha avó paterna, para os
braços de Deus, em 2009. Meu pai não aguentou a perda e voltou para o crack,
tentando fugir da realidade e, desde então, nunca mais foi internado, ele mesmo
não quer a cura do vício. Em 2010, depois de muito implorar, minha mãe,
separou-se dele. Houve época que eu o odiava, não suportava nem ouvir seu nome.
Quando as pessoas me perguntavam se eu tinha pai, dizia que não, pois meu pai
tinha morrido para mim. Com o passar do tempo, percebi que essa minha revolta,
estava deixando minha mãe triste e até depressiva. Meu pai, diferente de outras
pessoas, quando ia se drogar, ficava trancado no quarto dele. Quando saia, não
ficava agressivo, pelo contrário, ficava quieto, na dele, tudo que eu pedia,
ele deixava, arrumava a casa, lavava louça, roupas, ele fazia de tudo e bem
quieto. Hoje ele tem 39 anos, mora em São Bernardo do Campo, com meu tio. Em
fevereiro deste ano, quando o vi pela última vez, ele estava conseguindo andar
de muletas, pois ele teve um acidente vascular cerebral (AVC), ficou paralisado
de um lado do corpo. Ficou acamado, usando fraldas, dependia totalmente da
ajuda do meu tio. Eu, no início, até me preocupava com ele, queria saber se ele
estava bem, precisando de ajuda, já que meu tio é enfermeiro e passa mais tempo
no hospital do que em casa. Recentemente fiquei sabendo que mesmo sem poder
andar direito, ainda com a ajuda de muletas, ele continua indo atrás do crack.
Resolvi deixá-lo de lado. Minha mãe pede para eu ligar, para saber como ele
está. Fico enrolando e acabo não ligando. Hoje tenho uma única certeza, que em
breve receberei uma ligação aonde, alguém do outro lado da linha, irá me dizer:
seu pai está morto. Meu pai, assim como a maioria dos usuários de drogas,
começou com a maconha, até que os efeitos não mais o satisfaziam, passando
assim, a usar o crack. Eu por ter presenciado várias cenas, poderia ser uma
garota revoltada como mundo, ou poderia seguir seu exemplo e me drogar. Graças
a Deus, tenho sonhos, objetivos. Minha mãe já sofreu demais e eu quero dar
muito orgulho para ela. Pretendo ser uma grande médica, quero poder dar uma
vida melhor para minha mãe e para meu irmão, que hoje são tudo que eu tenho, não passo por dificuldades, falo de vida melhor, no sentido de felicidade.
Texto escrito pela aluna do 1º ano do Ensino Médio da escola que leciono.
Olá, meu nome é Vitória e tenho 10 anos. Bom eu recomendo
não usar drogas porque isso é muito ruim para a nossa saúde e para a nossa
vida.. Eu achei a história da Patrícia muito triste, mas quando minha
professora leu, desde o começo, até o fim, percebi como é a droga, e que nós
adolescentes, é muito fácil entrar nesse caminho do mal. A menina sofreu muito,
fiquei com pena dela e essa história acontece muito na vida real, tem até
criança nessa situação! Tem muitas pessoas querendo sair, mas o vício é tão
grande que ela não consegue. Eu estava fazendo leitura na igreja onde frequento
e apareceu um homem que tinha saído esses dias do hospital e quando eu ouvi
essa história, deu pra perceber que ele queria sair disso, mas não conseguia.
Gente, não aceite coisas de pessoas que você não conhece, porque pode até ter
droga dentro (boa noite cinderela) Eu vou contar à história que aconteceu com a
patrícia. É assim... Vocês, na sua vida têm dois caminhos; o do bem e o do mal.
O do bem, é cheio de pedras, é como se fosse um chinelo velho, já o do mal, é
cheio de flores é como se fosse uma sandália do melhor tecido. O que escolheu o
do bem, encontrou muitas dificuldades, encontrou também pedras pequenas, que
logo foram sendo ultrapassadas, tinha também pedras grandes que exigiram muito
esforço, que o fez, por vezes,pensar em desistir, mas nessas horas encontramos
os fortes e os fracos. Depois de superar tudo isso, o que lhe espera é um
corredor de rosas, com pétalas que os pés podem pisar e um banquete com pão
produzido com a melhor massa e o melhor vinho. Já o que escolheu o caminho mal,
encontrou na sua frente, um caminho monstruoso. As flores viraram espinhos,
entre muitas pedras, as sandálias viraram pés descalços e o banquete a saciar a
sua fome era um pão velho e o vinho mais azedo da região. Isso acontece porque
cada um tem a recompensa da decisão que tomará. No começo a patrícia era uma
menina bonita e honesta, tinha tudo do bom e do melhor. Ao escolher o caminho
do crack, não tinha força nem para escrever a carta que a minha professora leu.
LEMBRANDO: Nós, adolescentes, adultos e crianças nãovamosentrar nesse caminho,
que você não ganha nada, só perde, as amizades e até sua família.
Texto escrito por
aluna da 5ª série da escola onde leciono.
Oi, eu sou a Júlia e estudo na quinta série. Eu acho que o
futuro nós fazemos hoje, e temos que agradecer a Deus por sermos pobres e pedir
para não cairmos na mão do vício, não só de drogas, mas de cigarro, bebidas
alcoólicas, etc. A Patrícia foi esperta ao deixar-nos essa carta. Ela nos
ensinou que droga é coisa séria e que não é só gente que tem problemas
financeiros que usa droga, tem muita gente rica que morre por conta de drogas,
bebidas e cigarro. Cada pessoa aprende com seus erros, tem gente que erra e não
aprende nada, tem gente que aprende com os erros dos outros. No caso de
Patrícia, ela aprendeu, mas aprendeu tarde demais.
Texto escrito por
aluna da quinta série da escola onde leciono.
Meu nome é Natália Ferreira. Venho através desse depoimento,
contar a imensa tristeza que durante anos fez doer meu coração. Meu pai bebia
muito. Ele bebia tanto que as lembranças dos danos que ele causou em seus
momentos de embriaguês, trago na memória. Aos três anos de idade lembro-me de
uma discussão onde meu pai levava um facão ao pescoço de minha mãe com muita
brutalidade. Eu, muito pequena só chorava, ao ver aquela cena que eu não
entendia o porquê, mas sabia que fazia a minha mãe sofrer, chorava ao pedir
ajuda. Em uma dessas discussões turbulentas, minha mãe grávida de sete meses,
foi empurrada escada abaixo. Por sorte ou pela mão de Deus que a segurou o bebê
ficou intacto, mesmo depois de ter rolado 15 degraus. Os vizinhos chamaram a
polícia e a ambulância que a socorreu. Com a chegada da polícia, meu pai saiu
rapidamente e assim, perdemos totalmente o contato com ele. A criança nasceu,
mas a situação estava precária, além do bebê recém -nascido tínhamos uma
dispensa vazia e minha mãe estava sem trabalho. Chegou a primavera, os dias
passavam, mas em nossa casa, nada florescia. Estávamos tristes com a ausência
de meu pai, que segundo comentários, vivia nos bares da redondeza, mas que por
medo ou outros motivos, que só ele saberia explicar, não voltou para casa. A
situação não melhorava os meses se passando, e vivíamos apenas com a ajuda de
cestas básicas que ganhávamos de igrejas ou vizinhos. Ajudava mas não muito,
pois minha mãe tinha agora dois filhos para criar, a comida era pouca e ainda
tínhamos água e luz para pagar. Com tantas dificuldades, em uma reunião de
família, minha mãe concordou em dar minha irmã para uma tia criar, em Minas
Gerais. A despedida foi dolorosa, mas em meio a lágrimas da minha mãe, havia o
conformismo de que era o melhor a fazer. Eu e minha mãe fomos morar na casa de
outra tia. Mudamos de bairro e assim acabamos perdendo nossa casa, que foi
invadida por marginais. Morando na casa da minha tia e sem ter notícias do meu
pai, eu sofri muito. Eu era pequena e sentia muita falta dos seus abraços,
mesmo cheirando a cachaça. Já tinha me acostumado, pois era assim diariamente.
Por quatro anos não tive contato com meu pai. Apenas as lembranças me faziam
chorar muito. No pré, lembro-me das festinhas de dia dos pais, e eu, uma das
poucas crianças que estava somente com a mãe. Eu as invejava muito. Ter homens
fortes, altos ao lado delas. Ao meu lado, uma mulher frágil que tentava criar
sua filha com dignidade. Minha mãe sofria muito pela ausência de minha irmã
caçula. O amor que minha mãe sentia por meu pai não havia acabado mesmo como
decorrer dos anos. Minha mãe, já estabilizada resolveu procurar por ele.
Descobrimos que ele morava no nosso bairro e trabalhava em uma padaria. Minha
mãe ficou muito feliz e decidiu visitá-lo. Ele trabalhava e morava sozinho em
uma pensão masculina. Saímos da casa da minha tia e fomos visitá-lo, na
esperança de que ele tivesse melhorado. Após alguns meses de felicidade, nos
deparamos com a realidade do alcoolismo. Ele apenas disfarçava ter parado de
beber. Quando sóbrio, nos mostrava, de forma clara, a bondade de seu coração.
Os anos foram se passando e meus pais, morando em casas separadas, e ao mesmo
tempo juntos. Para mim, agora com 12 anos, era filha de pais modernos e a
melhor solução para evitar conflitos. Nessa mesma época, com 12 anos, encontrei
meu primeiro emprego. O salário não era bom, nem para uma menina de 12 anos e a
responsabilidade continuava. Meu pai bebendo muito e minha mãe sempre com
esperança de termos uma vida melhor. Quando eles discutiam, meu mundo desabava,
pois tinha a escola, meu segundo emprego, quanta responsabilidade. Fui obrigada
a amadurecer precocemente. Meu pai bebendo muito e agora minha mãe,
desempregada. Eu já não aguentava mais, tantos problemas juntos. De melhor
aluna da sala, passei a ter um rendimento ruim. Estava sempre estressada,
preocupada e pensando como solucionar tudo. Quando tentava resolver algo, logo
me frustrava, pois meu pai não parava de beber. Conversei muito com ele,
chamava sua atenção, tentava entender porque ele bebia tanto. Eu achava que em meio as nossas conversas ele
podia melhorar. Nada de resultados. Fui ficando dispersa, sai dos meus empregos
e ninguém mais trabalhava em minha casa. Vivíamos do pouco que meu pai nos
dava. Isso quando ele não gastava seu salário todo em bebida. Voltamos ao fundo
do poço, só que agora junto com meu pai. Chegamos ao ponto de não termos gás,
arroz e quando tínhamos, faltava feijão. Fomos aprendendo a viver. Discutia com
meu pai, exigia melhoras, queria acender dentro dele a chama do meu super
herói, apesar de tudo, é assim que eu o imaginava. Quando tinha 14 anos, nova
separação. Minha mãe me proibia de visitá-lo, ela percebia minha indignação com
as atitudes dele e por outro lado ela tentava esconder de mim outra triste verdade,
que meu pai, além de alcoólatra era também usuário de drogas. A vida dele foi
se acabando, perdeu a confiança do patrão, que o demitiu depois de tantas
faltas. Ele já não tinha onde morar, porque não tinha como pagar o aluguel da
pensão e foi convidado a se retirar. Morando nas ruas e com facilidades de se
consumir drogas, chegou a um estado deplorável. Já não mais tomava banho, não
cortava o cabelo. Para ter dinheiro para comprar drogas, fazia um bico ou
outro, descarregando frutas na feira. Em uma tarde, minha tia paterna, passando
por uma rua o reconheceu e sem pensar duas vezes o abraçou, colocou-o dentro do
carro e o levou para sua casa. Deu-lhe banho, comida e entre outros. Morando
com minha tia, passou a frequentar a igreja onde ela é pastora e converteu-se.
Sua história foi refeita. Hoje, aos 17 anos relato feliz o fim do meu
sofrimento que durou 14 anos. Meu pai casou-se com uma mulher da sua igreja,
tem seu próprio negócio e hoje é concorrente do seu antigo patrão. Eu sempre
soube que meu herói iria voar tão alto quanto à força da minha esperança, que
pedia a Deus todos os dias para guardá-lo com carinho.
Texto escrito por
aluna do 1º ano Ensino Médio da escola que leciono.