Dois irmãos, o universo e o tamanho de tudo
A história da ferramenta criada por dois meninos para agregar na mesma
escala as grandes distâncias da astronomia e os imprecisos tamanhos do
nanouniverso ou como a criatividade pode ser importante para a divulgação
científica de conceitos abstratos.
Por: Marcelo Garcia
Publicado em 06/03/2012 | Atualizado em 06/03/2012
Estimulado por um
vídeo assistido em sala de aula, Cary Huang decidiu criar sua própria escala
interativa do universo, contando com a ajuda somente de seu irmão Mike. (foto:
reprodução / acervo pessoal)
Qual o tamanho de um elétron? Quanto mede a menor coisa visível a olho
nu? E, afinal, qual o tamanho de um ano-luz? A questão da escala é um dos
maiores desafios da divulgação da ciência. Seja nas enormes distâncias do
universo ou nas medidas mínimas do mundo nanométrico, é sempre complicado
transmitir uma boa noção da diferença de tamanho, por exemplo, entre uma
estrela gigante vermelha como Antares e o nosso Sol, ou entre uma molécula, um
cromossomo e um nanotubo de carbono.
Qual o tamanho de
um elétron? Quanto mede a menor coisa visível a olho nu? E, afinal, qual o
tamanho de um ano-luz?
Por isso, iniciativas como o The
scale of the universe, programa que teve sua segunda versão
lançada recentemente e nos conduz por uma didática viagem pelo tamanho de quase
tudo, são muito bem-vindas para aproximar conceitos científicos abstratos do
público. Ainda mais se considerarmos que seus criadores, os irmãos Mike e Cary
Huang, não são cientistas renomados, mas meninos de 14 anos. Assim como a história da menina que inventava moléculas, a iniciativa dos irmãos Huang mostra os resultados potenciais que podem
ser obtidos ao se estimular o interesse dos jovens pela ciência.
O tamanho de cada
coisa
Nossa história começa em 2010, numa sala de aula da Califórnia, Estados
Unidos. Após o professor apresentar à turma um vídeo que comparava os tamanhos
das células, Cary ficou impressionado e decidiu criar sua própria escala
interativa das coisas. Dias depois, estava pronta a primeira versão do Scale of the universe. Sucesso na escola, o modelo também
ficou famoso na internet, quando Mike ajudou a disponibilizá-lo na rede.
A segunda versão do programa é fruto de um ano e meio de trabalho dos
irmãos. O aplicativo permite navegar por uma escala interativa do universo,
desde a distância de Planck, menor medida
possível prevista pela física, até o campo profundo observável do telescópio Hubble, uma das maiores
distâncias já mensuradas pelo homem. Entre os extremos, podem ser comparados
centenas de itens, de corpos celestes a seres microscópicos e nanoestruturas,
todos com informações adicionais acessíveis com um simples clique e arranjados
em uma escala logarítmica de potências de 10.
Confira um vídeo que mostra como
navegar na ferramenta desenvolvida por Cary e Mike
Calibrando a escala
do universo
As informações disponibilizadas no programa foram pesquisadas em livros
e, principalmente, na própria internet – em especial na Wikipédia. “Sempre
procuramos checar a confiabilidade das fontes, mas todos estão convidados a nos
ajudar a corrigir os possíveis erros”, convoca Cary, em entrevista por e-mail à CH On-line.
A ferramenta pode
ajudar a entender o universo melhor, mas visualizar sua grandeza é difícil,
afinal, a humanidade é apenas uma pequena parte de tudo
O garoto acredita que a iniciativa pode ajudar as pessoas a compreender
melhor o universo e destaca as dificuldades de desenvolver a escala. “As coisas
pequenas foram mais difíceis de entender e visualizar, até pela dificuldade da
ciência para definir seu tamanho”, explica. “Nossa ferramenta pode ajudar a
entender o universo melhor, mas visualizar sua grandeza é mesmo difícil,
afinal, a humanidade é apenas uma pequena parte e até o tamanho de nosso
próprio planeta é difícil de imaginar.”
Apesar de registrar algumas imprecisões, como admite o próprio Cary, o
programa também reflete a quantidade de informação científica disponível na
internet, que poderia ser utilizada em atividades de ensino inovadoras. O
trabalho despertou nos irmãos, além do interesse por programação e animação, a
paixão pela astronomia.
Infelizmente, o programa, por ora, está disponível apenas em inglês.
Mesmo assim, vale conferir, para ter uma ideia de quão grande e complexo é o
universo em que vivemos. Também é possível acessar a sua primeira versão, já traduzida para o português.
As potências de dez
A ferramenta não é a primeira iniciativa a tornar mais palatáveis as
diferenças de escala da ciência. O famoso documentário estadunidense The power of ten, produzido em 1968
pelo casal Charles e Ray Eames, responsável por diversas iniciativas de
divulgação científica, também utilizava a mesma ideia – mostrar as grandezas do
universo, do muito pequeno ao gigantesco, tendo como base, tal qual os jovens
cientistas dos Estados Unidos, a escala de potências de 10. Além de serem
importantes para a área de design e arquitetura, os Eames trabalharam na
interfacecinema-entretenimento-educação, e elaboraram, em
parceria com a IBM, 15 filmes e 30 exibições voltadas à divulgação científica,
desde eventos de pequena escala até a grandiosa exposição Mathematica: a world of
numbers...and beyond.
Marcelo Garcia
Ciência Hoje On-line
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